No apagar das luzes, Paul ainda mostrou a camisa do Brasil arremessada ao palco, com o número 10 e o nome “Macca”. “Agora sou do time brasileiro, é oficial!”, brincou o músico, antes da chuva de papel picado verde, amarelo, azul e branco.
A apresentação começou às 21h45 com “Hello, Goodbye”, dos Beatles, com Paul ainda vestindo o blazer azul que tirou logo depois que se encerrou a permissão para os fotógrafos profissionais captarem imagens. Nas mãos, o clássico baixo Hofner, e o público. O ex-Beatle desfila um carisma difícil de ser igualado. Na sequência, “Jet”, do The Wings, e a primeira das muitas vezes em que Paul falou português. “Olá, Rio! E aí, cariocas! Boa noite, Brasil!”, gritou, antes de emendar “All My Loving”, para delírio da plateia. A voz marcante teve valiosa ajuda, em diversos momentos, dos backing vocals, com destaque para o gorducho e caricato baterista Abe Laboriel Jr., que espancou sem dó as caixas, surdos e pratos.
Intercalando músicas de sua carreira solo com os clássicos que marcaram a trajetória dos Beatles, e motivaram o público a pagar até R$ 700 por um ingresso, Paul colocou o Engenhão para dançar com “Drive My Car”.
Foto: Marcos Hermes/Divulgação
McCartney abusou do português e cumprimentou a plateia: "E aí cariocas"
Após mais duas músicas do The Wings, Paul voltou aos Beatles com a country “I’ve Just Seen Your Face”, já com um violão. Desta vez, falou em inglês: “É sempre ótimo para nós vir a este lugar, lindo lugar, com lindas pessoas, linda música... Vocês amam música? Nós amamos vocês! Yeah, yeah, yeah”, disse, ao iniciar “And I Love Her”.
Antes da faixa seguinte, “Blackbird”, Paul explicou: “Nos anos 60, tínhamos muitos problemas com os direitos civis. Ouvíamos esses problemas, especialmente as questões pelas quais os negros estavam passando. E escrevi essa música para eles”. Na sequência, uma homenagem a John Lennon: “Essa eu escrevi para o meu amigo John”, limitou-se a dizer Paul antes de cantar “Here Today”, encerrada com “essa foi para você, John”.
Curiosamente, apesar da pitada de política, a música com maior contexto político do show, "Give peace a chance", de John Lennon, não teve qualquer fala de apresentação e se fundiu com "A Day in Life", que pouco se encaixa, não musicalmente, mas neste aspecto. "Give peace a chance" foi composta enquanto o ex-presidente norte-americano Richard Nixon insistia em mandar mais jovens para a guerra no Vietnã, tentava deportar Lennon e Yoko Ono, e concorria à reeleição. A canção virou trilha de um protesto com meio milhão de pessoas em frente à Casa Branca. Foi cantada, no Rio, com o símbolo do movimento "hippie" no telão.
Outro momento que empolgou foi “Eleanor Rigby”, com o tecladista Paul Wickens sintetizando em seu Yamaha os violinos para acompanhar o violão e os backing vocals. Na parte final do show, em "Lady Madonna", ele voltou a se escorar na tecnologia. Na ausência de um sax, colocou um quase imperceptível, a não ser nas ampliações no telão, equipamento que pode ser descrito como um apito eletrônico. Na verdade, ali controlava, no sopro, a intensidade do instrumento, e, com as mãos, no teclado, dava as notas do sax virtual.
Na sequência, um tributo a George Harrison, com “Something”: “Essa é um tributo ao meu amigo George”, afirmou, enquanto algumas fotos dos Beatles, e muitas de Harrison, passavam no telão. Depois de “Band On The Run”, “Ob-la-di, Ob-la-da” e “Back in The USSR” fizeram o público dançar e pular, com Paul encerrando em imitação de gritinhos de lobo.
O único solo de guitarra que arriscou foi em “I’ve Got a Feeling”, novamente com uma Les Paul, antes de iniciar a série final só com músicas dos Beatles. De “Paperback Writer” a “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, intercalando petardos como “Helter Skelter” e "Day Tripper" (versão com boa pegada que usou guitarra semi-acústica ao lado de uma Fender Telecaster), foi pura nostalgia.
Em “Hey Jude”, que cantou antes de sair do palco para um rapidíssimo intervalo, os balões coloridos e cartazes de “na-na-na” emocionaram o cantor: "You are very cool, that 'na-na-na' was very nice (Vocês são muito legais. Aquele 'na-na-na' foi muito bom")". Durante o coro de "na-na-na", Paul voltou ao português: "Agora só as mulheres", disse. "Continuem as mulheres", emendou. Em seguida, escorregou, mas não comprometeu: "Agora todos mundos (sic)!".
Outro ponto alto foi o show pirotécnico na empolgante “Live and Let Die”. A potência das labaredas à beira do palco no refrão, além dos fogos de artificício lançados na frente e, em maior escala, nos fundos do palco, impressionaram. O fim, às 0h20, foi com "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", chuva de papel picado e uma simples frase: “Até a próxima”. No caso, a próxima será nesta segunda-feira, no mesmo local.
Setlist
1 – Hello, Goodbye
2 – Jet
3 – All My Loving
4 – Letting Go
5 – Drive My Car
6 – Sing The Changes (The fireman song)
7 – Let Me Roll It
8 – The Long and Winding Road
9 – 1985
10 – Let’em In
11 – I’ve Just Seen a Face
12 – And I Love Her
13 – Blackbird
14 – Here Today
15 – Dance Tonight
16 – Mrs. Vandebilt
17 – Eleanor Rigby
18 – Something
19 – Band on The Run
20 – Ob-la-di, Ob-la-da
21 – Back in The USSR
22 – I’ve Got a Feeling
23 – Paperback Writer
24 – A Day in Life/ Give Peace a Chance
25 – Let it Be
26 – Live and Let Die
27 – Hey Jude
Bis
28 – Day Tripper
29 – Lady Madonna
30 – Get Back
Bis
31 – Yesterday
32 – Helter skelter
33 – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
Fonte Ig